sábado, 22 de agosto de 2009

Perfeição


Pessoa mais correta não havia. Ela era tão linda, tão justa, tão certinha... Mas as pessoas já haviam se acostumado com esse fato.
Sua roupa era muito bem passada; o branco de sua camisa brilhava; seus cabelos sempre limpos e cheirosos. Não tinha filhos, muito menos algum namorado. Era muito ocupada para essas coisas... Trabalhava muito, pois assim conseguiria fazer a tão sonhada viagem para Paris.
Branco e preto. Sua vida era assim. Não tinha amigos, não confiava em ninguém para não sofrer mais tarde. Apenas ela vivia. Não se sabe como, mas ela vivia.
Ela era tão estranha... Andava sempre com passos curtos e rápidos em cima daqueles sapatos de boneca.
E então chegou um dia que ela chegou cansada do trabalho (coisa que nunca acontecia), olhou-se no espelho e ficou pensando...
O que ela havia se tornado? Uma marionete previsível da perfeição? Estava com vontade de quebrar tudo a sua volta. Olhou-se mais uma vez.
Quem era a estranha que ela via? Simplesmente não era ela. Era apenas um projeto inútil, onde ninguém se interessava.
E então, na frente daquela imagem ela tirou sua camisa, pegou uma tesoura cortou seus cabelos, pintou as paredes de seu apartamento... Voltou para o espelho encarando-o.
Ainda faltava alguma coisa.
Pegou parte do dinheiro que havia juntado e fez compras. Ela sabia que iria para Paris um dia; mas devia mudar antes.
Pintou os cabelos com um vermelho intenso; maquiou seus olhos bem de preto, usou roupas mais curtas e provocantes... Revirou sua cama. E agora todos estavam a gostar dela. Descobriram que por trás da tamanha perfeição, nela havia uma grande mulher.
Meses depois, ela foi para Paris e encontrou um grande amor. Amou de verdade; com tudo o que podia, sem medo algum.
Jogou a velha vida fora; já bastava o que tinha perdido de viver... Pois ela viu que perfeição demais, simplesmente não valia a pena.

Beijos e Grifes...
Pamela Brenda